quarta-feira, 13 de março de 2013

O TRAÇO PROJETUAL

O texto “PESQUISA NA ÁREA DE PROJETO” de Abrahão Sanovicz nos aponta um detalhe muito interessante, que na maioria das vezes não damos conta. ”Na medida em que estamos trabalhando e que nossas pranchetas estão ocupadas, cada traço que fazemos significa trabalho para bastante gente. São os materiais que se usa, é a mão de obra empregada, o transporte necessário, a indústria ativada, coisas assim. Nosso trabalho é de ponta. Quando desenhamos dois traços, isto ativa toda uma população. É necessária a consciência do desdobramento dos mesmos. É um dos aspectos do nosso trabalho”¹ Peço permissão ao arquiteto para ir além. Sanovicz não foi meu professor direto, mas certos personagens acabam sendo adotados como mestres por todos nós, profissionais do projeto. O traço projetual é um simples gesto, mas pode determinar as mais incríveis consequências, diretas ou indiretas, na vida de todas as pessoas. O traço controverso das fronteiras separam nações, povos, etnias, crenças, economias, estabelecem novas ordens, geram conflitos, criam e destroem vidas. O traço autoritário do muro de Berlim isolou avós, pais, filhos, companheiros, amigos. O traço do sistema viário desapropria, desaloja, desafoga, alivia, renova. O traço mágico de Hadid converteu-se, o traço vigoroso de Libeskind ainda desagrega, o traço concreto de Ando distingue, os traços sinuosos do modernismo heterodoxo de Aalto e Niemeyer desafiam o de Mies, e o traço leviano do modismo banaliza. O traço que compartimenta nossas casas traz a hospitalidade, o convívio, a tranquilidade, a luz e o calor. O traço apaixonado e inteligente do design traz a inovação, o conforto, a emoção. Será que o arquiteto do universo sabia desenhar? SANOVICZ, Abrahão. A pesquisa na área de projeto. In SEMINÁRIO NATUREZA E PRIORIDADES DE PESQUISA EM ARQUITETURA E URBANISMO, São Paulo. São Paulo, FAUUSP, 1990, p.109 a 111 (texto elaborado originalmente como base para discussão no Grupo de Disciplina de Projeto de Edificações, 1985).

domingo, 10 de março de 2013

O FACEBOOK E OS QUE PARTIRAM

Nestes últimos meses três amigos queridos partiram inesperadamente. Mas como num passe de mágica, com um clique de mouse os trazemos de volta. Não podemos mais compartilhar a presença física, não podemos mais desfrutar da companhia, não podemos mais contar estórias e dar risadas, e num momento de deslize, até fazer uma fofoquinha. Mas podemos olhar as fotos, recentes, antigas, as que estamos juntos, as alegres, as que marcaram a vida da pessoa. Podemos ver as postagens, os comentários, relembrar as particularidades de cada um. Estar no Facebook é um pouco como estar ao lado. Por isso, peço aos familiares que apesar da dor da perda, não eliminem ou removam o conteúdo dessas páginas. Para alguns, é a maneira imediata de matar a saudade quando ela aperta.