PARA TODOS:
Ser requisitado a todo o momento para “rabiscar” qualquer coisa, de um dia para o outro, afinal você não tem mais nada para fazer, e cobrando pouco, afinal seu cliente tem coisa melhor onde usar o dinheiro, como a nova TV LED/LCD/FULL HD/3D/80’, ou a “propina” para o fiscal da prefeitura.
Ler na revista Veja todo ano que sua profissão continua como uma das piores no ranking, seja pelo o que ela representa para a economia, mas principalmente pela média salarial, e que os conceitos de carreira, salário base e teto não existem.
Saber que seu país é dos únicos no mundo a regulamentar sua atividade profissional pelo mesmo órgão que cuida de engenheiros, agrimensores e técnicos em geral.
Ouvir que sua profissão é a mais bonita, e que gostariam de ter estudado arquitetura, mas na verdade, não tiveram peito para encarar essa.
PARA ALGUNS:
Concorrer com os milhares de colegas formados por todo tipo de cursos, que como a grande maioria dos brasileiros, sequer aprendeu a falar português.
Ser administrador, economista, engenheiro, técnico em sustentabilidade, consultor sentimental, político e baladeiro, tudo com apenas um diploma.
Tentar fazer coisas bacanas, fugir do último modismo e das revistas, argumentar e justificar as propostas, mas morrer na praia, afinal, o apartamento da amiga da cliente não é assim.
Observar horrorizado e impotente as desgraças causadas pela estética do mercado imobiliário.
Desenhar, detalhar e especificar um projeto à toa, e na obra, esquecer que existem prumos e níveis, linhas e ângulos retos e medidas.
Assistir ao êxito de alguns que conseguiram o sucesso graças ao marketing e outros meios, e não à arquitetura.
PARA OS VIAJADOS E ANTENADOS:
Ser considerado parte integrante da elite na Finlândia, graças ao nível cultural dos escandinavos e ao prestígio conquistado por Alvar Aalto (mas não somos finlandeses).
Conversar com os berlinenses, e perceber o quanto eles acreditam que a arquitetura pode mudar sua cidade e suas vidas (mas não moramos em Berlim).
Saber que Brad Pitt, ídolo para nove entre dez mulheres e homens, ama arquitetura e design, ao ponto de batizar uma de suas filhas com o nome de um arquiteto famoso (mas não temos amigos como Brad Pitt).
Assistir ao seriado Seinfeld e achar graça toda a vez que o personagem George, interpretado por Jason Alexander, se faz passar por arquiteto, quando quer esconder sua vida medíocre e conquistar mulheres (mas no Brasil não é uma boa tática).
PARA OS EXPERIENTES E OUSADOS:
Discutir com seu cliente questões técnicas, estéticas e filosóficas, sem ser considerado louco.
Ensinar os engenheiros que existem outras formas de conceber uma estrutura além do sistema de pilares, vigas e lajes.
Não poder participar de concursos internacionais, pelas dificuldades do dia a dia e pela defasagem tecnológica em que vivemos.
Saber que você é o profissional mais indicado para governar uma cidade, pois a entende como um organismo vivo, e que é formador de opinião, mas perceber que as pessoas nem se dão conta disso.
PARA TODOS OS QUE NÃO ABANDONARAM A PROFISSÃO NOS PRIMEIROS ANOS:
Persistir, apesar de tudo o que foi exposto acima, com amor, ética e vontade.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
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Perfeito! Palavras lúcidas e refletindo exatamente o nosso dia-a-dia.
ResponderExcluirEnquanto nossa classe média solicitar ao desenhista para projetar sua casa, guiar-se pela casa das “celebridades de Caras”, gostar do exagero pois ele é “simplesmente um luxo”, nossas cidades continuarão a exigir uma arquitetura digna do terceiro mundo.
Mirem-se nas cidades dos descolados (a exemplo de Rotterdam, Amsterdam, Berlim, New York....)
Falou tudo! e viva a arte, e viva a arquitetura!
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