segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

EU E O GÊISER (OU, OS ARRUDAS)

Dias atrás um amigo me perguntou:
-Você não vai escrever nada sobre o caso do José Roberto Arruda?
Imaginem: se fosse escrever sobre cada caso de corrupção no Brasil precisaria parar de fazer tudo o que faço, mesmo assim, desconfio que vinte e quatro horas por dia não seriam suficientes. Além disso, esse Arruda não é tão importante assim.
Houve um tempo, em que existiam dois baluartes morais de nossa sociedade: o Corpo de Bombeiros e a Imprensa.
Sobre os bombeiros, não há muito que dizer, os caras são gente boa. Mesmo quando algum “membro” da corporação participa de calendário ou “pega” uma coroa da mídia. Afinal, eles tem que fazer “bico” e se divertir um pouco. Mas cuidado: não vamos confundi-los com PMs que “pegam” a Susana Vieira, esses vão cheirar até morrer.
A imprensa, por outro lado, há muito deixou de ser alguma coisa séria. Não existe mais isenção política e é movida por puro interesse econômico.
Como exemplo, em Outubro de 2007, para alertar os participantes do meu curso, sobre o ambiente cultural em que vivemos, apresentei alguns fatos que me chamaram atenção nas semanas anteriores:
*Oito entre dez revistas colocadas na vitrine lateral de uma banca de revistas próxima à minha casa tinham como matéria de capa o aniversario de Sasha Meneghel.
*A edição da revista Veja anterior ao dia das mães tinha mais de 25% das páginas dedicadas à propaganda de telefones celulares.
*Todos os jornais deram ampla cobertura para a sessão solene da Assembléia Legislativa de São Paulo, organizada para oferecer o prêmio de “personalidade do ano” à Íris Stefanelli, mais conhecida como a “caipira do BBB”.

É muita falta de assunto.

Graças ao seu alto índice de penetração, através de todos os veículos disponíveis, a imprensa poderia assumir o papel mais importante como agente de transformação social, oferecendo informação e educação direta. Ao invés disso, abre espaços cada vez maiores para eventos e personagens que nada tem a oferecer, a não ser empobrecer ainda mais nossa realidade.
Até que o meu nível de isolamento é razoável. Não vejo TV aberta (não sei quantos rechonchudos sensacionalistas tem programas de fim de tarde), não leio jornal (é muito demorado) e não consigo mais ler a Veja (é muita propaganda).
Para não me alienar completamente, ouço rádio enquanto faço a barba e tomo banho. Como o ritual é demorado (o que gasto de água, economizo em outras coisas), pelo menos dá para saber qual shopping caiu, qual gênio do futebol foi comprado ou vendido, e se a Dilma continua lá em baixo.
Mas estou cercado, não tenho como escapar. Todo dia, logo cedo, ligo o computador para ver os e-mails, e quando acesso a página principal do meu provedor, lá está ela, dando o ar de sua graça, e de nossa desgraça: Geisy Arruda.
Geisy vai ao salão de beleza (sic), faz cirurgia, participa de programa, é letra de música, e, é claro, como toda inutilidade do momento já está participando dos ensaios para ser destaque em alguma escola de samba.
Calma Geisy, deixa o filme pornô para quando não sobrar mais nada. Aí você escreve a carta, se enche de calmantes e diz que já fez de tudo na vida.
Geisy não é inteligente. Não é talentosa. Não é bonita. Não é gostosa. Geisy é a mais nova cria dessa imprensa medíocre, que só colabora para a degradação de nossos valores.
Para mim, Geisy é como um gêiser, que todo dia, a mesma hora, mostra que Andy Warhol estava errado.

Mas Cazuza estava certo: o sol continua a brilhar, apesar de toda a barbaridade. Portanto, vamos dar uma corridinha, tomar um banho de meia hora e fazer coisas bacanas.

Epa! Olha eu aí perdendo tempo para falar dela!

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